terça-feira, 23 de setembro de 2008

Gentil Cardoso

A figura lendária do técnico Gentil Cardoso.

Ele inventou muitas coisas nos 44 anos em que trabalhou como técnico no futebol brasileiro. Mas as suas frases e suas histórias engraçadas ficarão como sua grande obra.

Ele citava freqüentemente Cícero e Sócrates, lia Rui Barbosa e seguia os preceitos de Mahatma Ghandi. Como técnico de futebol era bastante diferente dos outros, especialmente pelas frases, ás vezes apenas engraçadas, e ás vezes muito inteligentes. Era técnico de futebol que antes de ser técnico foi muitas coisas na vida: engraxate, motorneiro, garçom, padeiro, marinheiro e capitão reformado da Aeronáutica.

No Rio de Janeiro só não trabalhou no Madureira. Por todos os outros passou, naquele entra-e-sai que caracteriza a profissão de técnico. Em São Paulo trabalhou no Corinthians e na Ponte Preta. Por duas vezes foi trabalhar no exterior como técnico do Nacional do Equador e do Sporting de Portugal.

No futebol brasileiro ele inventou uma porção de coisas: a palavra “cobra”, por exemplo, para indicar um bom jogador. Aquela expressão “Vai dar zebra”, quando um time pequeno ia enfrentar um time grande, também é dele. Nunca foi chamado para ser técnico da seleção brasileira. Essa foi sua grande frustração. Gentil dizia que não era chamado porque era preto.

O pitoresco interfere bastante em todos os momentos da sua carreira. Com a morte de Gentil Cardoso acabou um bom pedaço do velho e romântico futebol brasileiro.

Ademir, do Vasco da Gama, conta uma história de Gentil Cardoso quando ele dirigia a equipe de São Januário – “Nós, os jogadores, um dia descobrimos por que o Gentil sempre queria que a concentração do Vasco fosse na Ilha do Governador. Por volta das 10 horas, depois que estávamos dormindo, ele fugia por uma janela que deixava aberta e só voltava lá pelas 5 da manhã. Uma noite chuvosa, ficamos esperando que ele saísse pela janela. Então fizemos a brincadeira: fechamos a janela, com trinco e tudo. Quando Gentil voltou, com o dia nascendo, chovia bastante, E ele teve que ficar lá fora todo molhado, gritando que nem um doido”.

Também tem uma contada pelo jornalista Cipião Martins, quando Gentil era técnico do Bangu que excursionava pela América do Sul e ia fazer um jogo na Costa Rica.
- “Gentil me apresentou como técnico e disse que ele era o Kid Gavilan Cardoso, o maior arbitro do futebol brasileiro. E foi convidado para apitar a partida. Gentil apitou e o Bangu venceu. Dentro do campo, ele dava orientação a seus jogadores”.

Mas Gentil Cardoso também teve muitas decepções, na sua carreira de técnico de futebol. A pior delas talvez tenha sido aquela que aconteceu em 1952, no Vasco da Gama. Ele dirigia um time cheio de jogadores velhos, que não dava esperanças nem aos vascaínos. Sua permanência no cargo vivia ameaçada, mas mesmo assim o time conseguiu o titulo de campeão carioca. Após o último jogo, carregado em triunfo por alguns torcedores, Gentil Cardoso deu uma volta olímpica no estádio. Um locutor da Rádio Continental anunciou: - Ouvintes da Continental, com a palavra o técnico campeão. Vamos ouvir Gentil Cardoso.
E Gentil na euforia do titulo, no meio daquela festa, bastante emocionado, começou o seu discurso – “Estou nos braços dos torcedores, que reconhecem o meu valor. Quem tem o povo ao seu lado não pode ter medo de nada, não pode perder o cargo que conquistou com muito sacrifício”.
De repente, o entusiasmo de Gentil acabou. Um diretor do Vasco chegou perto dele e disse baixinho – “Está despedido”.

Sua frase mais celebre aconteceu em 1946 quando foi contratado pelo Fluminense. Ao ser contratado fez uma exigência e uma promessa.
-“Se vocês me deram Ademir, eu lhes darei o campeonato”.
O Fluminense contratou Ademir que não tinha renovado com o Vasco e os tricolores conquistaram o titulo de campeão carioca de 1946. Para alegria maior de Gentil, o jogo decisivo foi Fluminense 1 x Botafogo 0, gol de Ademir.

Em 1970 quando deu entrada no Hospital Central da Aeronáutica, ele conservava o mesmo bom humor. Disse para o médico – “Doutor, estou entrando na vertical. Vê se não saio na horizontal, porque técnico de futebol não pode trabalhar nessa posição. Não fica bem”.

Do Hospital, Gentil Cardoso saiu direto para o cemitério. Ele morreu no dia 8 de setembro de 1970 aos 73 anos de idade, com 44 desses anos dedicados ao futebol.

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 1970

Um comentário:

Déhh Flamengo disse...

eu acho que nao tem como o vasco vai cair, tem menos bola qu eo flu pra isso...
infelizmente para o nosso futebol
felizmente pra mim como flamenguista

um abraço