sexta-feira, 24 de julho de 2009

Salomão

Salomão – o príncipe do futebol nordestino

Santa Cruz e Sport Recife mandavam no futebol pernambucano. O trabalho de base desenvolvido em Pernambuco pelo Santa Cruz, formando jogadores de alto nível para o futebol brasileiro e se dando ao luxo de emprestar ou negociar os garotos ainda na fase de lapidação, garantia a hegemonia ao time cobra coral.

Sport Recife e Náutico Capibaribe começaram a traçar planos para impedir os avanços do adversário que se distanciava muito na preferência do torcedor, enchendo estádios e conquistando títulos importantes.

Trabalhando a base – mas sem muita qualidade – para tentar suprir as necessidades técnicas e o anseio de conquistas dos treinadores, ainda assim Náutico e Sport precisavam recorrer às contratações em outros estados com o objetivo de frear o Santa. O clube coral, com estreito relacionamento com o futebol paraibano, contratou Zezito junto ao Campinense Clube, de Campina Grande, melhorando ainda mais a qualidade do seu meio-campo. A contratação do cearense – Zezito era cearense de Fortaleza – pelo Santa Cruz mexeu com a torcida do Náutico, que não entendia como o adversário contratava um jogador de alto nível técnico e o clube timbu nem se mexia.

Dirigido por empresários de reconhecimento nacional no ramo bancário e de transporte interestadual, o Náutico foi também a Campina Grande e contratou o ainda desconhecido em Pernambuco, mas muito conceituado em meio aos torcedores alvinegros paraibanos, o “médio volante” Salomão.

Estudante de medicina em Campina Grande, a princípio Salomão encontrou empecilho para largar o curso ou trancar a matrícula e, ainda mais, para conseguir transferência para Recife. Salomão, visivelmente, preferia o curso de Medicina ao futebol.

Mas, eis que, no ano de 1963 o jovem jogador chega ao Náutico Capibaribe de Recife, que perdera o cearense Evandro para o São Paulo e, meses depois, Paulinho para o futebol baiano, e precisava recompor seu elenco para continuar na luta titânica contra os adversários em busca de títulos.

E tão logo chegou ao alvirrubro pernambucano, Salomão, paraibano de nascimento, foi compondo o time principal que conquistou o título estadual de 1963, o primeiro da série de seis conquistados em Pernambuco, que recentemente permitiu a comemoração dos 40 anos do hexacampeonato.

Na conquista inédita – por que abriria a série – o Náutico formou na maioria dos jogos com o time base: Lula (Valdemar); Zé Luiz, Gilson Costa, Evandro e Clóvis; Salomão e Ivan; Nado, Bita, Nino e Rinaldo.

Figuras exponentes do time e da conquista, além do próprio Salomão, o goleiro Lula Monstrinho, Evandro, Nado, Bita e Rinaldo. Evandro, zagueiro e médio volante foi negociado ao São Paulo; Nado foi convocado posteriormente para a seleção brasileira antes de ser negociado ao Vasco da Gama; Bita, eterno artilheiro timbu, e Rinaldo, negociado ao Palmeiras.

Em 1964, entretanto, apesar da conquista do bicampeonato pernambucano sob o comando de David Ferreira (Duque), Salomão sofreu uma contusão grave e por pouco não abandona o futebol. Jogando pelo Náutico, Salomão viajou até Fortaleza, onde enfrentou o Ceará no estádio Presidente Vargas em jogo válido por uma competição nacional. Naquele jogo, levou uma pancada no tornozelo do então oponente zagueiro central Mauro Calixto (eles jogaram juntos depois no Náutico) e caiu com o braço sobre a barriga, fraturando o rim direito.

O Presidente Vargas estava cheio, e Salomão estava indo em direção ao gol. A pressão era grande, o jogo ainda não tinha vencedor e Mauro Calixto, muito jovem e em começo de carreira, tentou impedir o avanço do meia alvirrubro. Os dois se chocaram e acabou sobrando para Salomão.

Mesmo com o rim aberto, Salomão permaneceu em campo. As conseqüências foram sentidas adiante, e ele precisou ser substituído. O jogador ficou meio desorientado, com o sangue diminuindo. Teve anóxia cerebral (ausência de oxigênio no cérebro) e foi retirado de campo. Quando voltou ao Recife, teve o rim suturado. Só que isso aconteceu cinco dias após o jogo. Depois de três meses, Salomão retornou aos gramados.

Salomão voltou a campo a tempo de participar da conquista do bicampeonato estadual numa final diante do Sport Recife, na Ilha do Retiro, no dia 25 de setembro. O Náutico venceu por 2 a 1, com gols marcados por Geraldo e Bita.

O elenco timbu naquele ano foi formado por Lula, Sílvio, Nelson, Gernan, Gena, Gilson Costa, Olavo, Rubens Caetano, Zequinha, Fraga, Clóvis, Toinho, Salomão, Ivan, Rossy, Benedito, Paulinho, Geraldo, Bita, Coutinho, Nado, Elcy, Nino, Lala e Miro. Time base: Lula; Gena, Gilson Costa, Zequinha e Fraga (Clóvis); Salomão e Ivan; Nado, Bita, Nino e Lala.

Jogador de futebol brilhante e muita classe e categoria, Salomão foi negociado ao Santos Futebol Clube em 1965. No time de Pelé, Salomão não jogou por muito tempo, apesar da força e apoio recebidos de Zito, em final de carreira e necessitando deixar no time um substituto à altura.

Salomão preferiu retornar à Recife para concluir o curso de medicina. É neurologista. Tão logo retornou à capital pernambucana, novamente ligado ao Náutico, Salomão foi envolvido em nova negociação, desta feita com o Vasco da Gama do Rio de Janeiro.

No Vasco da Gama, em 1967, quando o cruzmaltino era presidido por Agathyrno da Silva Gomes e treinado por Gentil Cardoso em final de carreira, a formação do time era a seguinte: Franz; Jorge Luiz, Brito, Fontana e Oldair; Salomão e Danilo Menezes; Zezinho, Bianchini, Nei e Mário.

Mesmo defendendo as cores do Náutico em três temporadas (63, 64 e parte de 65) Salomão integra o time dos sonhos do Náutico em todos os tempos: Lula; Gena, Mauro Calixto, Fraga e Marinho Chagas; Salomão, Ivan e Vasconcelos; Nado, Bita e Lala.

Têxto: José de Oliveira Ramos

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