quinta-feira, 26 de março de 2009

Geovani: o precoce “Pequeno Príncipe”

No início dos anos 80, o Brasil conheceu um menino que fez os saudosistas de então vibrarem com a possibilidade de verem nos campos brasileiros uma nova versão de Didi ou Gérson desfilando sua arte e comandando o meio-campo da seleção nos anos vindouros. Se o nosso futebol tinha meias-armadores de qualidade e mais experientes como Pita, Zenon, Delei e Adílio, nenhum deles apresentava tamanha visão de jogo e precisão nos lançamentos quanto Geovani Faria da Silva, que ainda não havia completado 20 anos.

O início meteórico no Vasco
Em meados de 1982, diante da hegemonia do Flamengo de Zico, então campeão mundial, o Vasco foi a Vitória buscar no Desportiva um meia de 18 anos gordinho, meio “marrento”, mas muito talentoso, que era a grande revelação local e alvo de comparações com Diego Maradona.

Geovani estreou pelos profissionais do clube de São Januário em agosto, entrando no segundo tempo da derrota para o Bangu por 2 a 1, no primeiro turno. Na final da Taça GB - para variar, entre o Vasco de Roberto Dinamite e o Flamengo de Zico - já era titular e, audacioso, deu um lençol no camisa 10 da Gávea com um Maracanã lotado como sua platéia.

Mas na seqüência da competição estadual, Geovani acabou pagando por sua irregularidade – compreensível pela idade e rapidez com que tudo aconteceu no início da carreira – e perdeu a vaga de titular na fase decisiva do campeonato para Ernani. Do banco de reservas, assistiu ao time de Antonio Lopes surpreender o arquirrival e, com a vitória por 1 a 0, sagrar-se campeão carioca depois de quatro anos amargando vice-campeonatos.

No Mundial de Juniores, a confirmação de seu talento
No ano seguinte, a redenção veio com a conquista do Mundial de Juniores. Geovani foi eleito o craque da competição, marcando de pênalti o gol único da vitória na decisão contra a Argentina. Ele era o cérebro da equipe comandada por Jair Pereira. Protegido por Dunga na marcação, era de Geovani que saíam os lançamentos precisos para o veloz ataque formado por Mauricinho, Maurinho Rã (que colocou Bebeto no banco) e Paulinho, sempre apoiados por Gilmar “Popoca”.

De volta ao Vasco, viveu um longo período de oscilações. Geovani padecia tanto pela eterna briga com a balança quanto pela dificuldade na marcação, o que fazia com que treinadores como Edu Coimbra, Antonio Lopes e Joel Santana o colocassem no banco para jogadores medianos, mas disciplinados e em plena forma física, como Mário, Luis Carlos Martins e Gersinho.
1988: o melhor ano da carreira
Em 1987, as coisas começaram a melhorar, com Geovani sendo titular absoluto na conquista do Campeonato Carioca. No ano seguinte, mais maduro e determinado a disputar as Olimpíadas e, posteriormente, sua primeira Copa do Mundo, Geovani resolveu aprimorar o combate aos adversários e emagreceu. Seu futebol evoluiu demais e ele foi o craque da temporada no Brasil, levando o Vasco ao bicampeonato estadual e à melhor campanha do Brasileiro, que só terminaria no início de 1989 com o Bahia campeão, mas quatro pontos atrás do time de Geovani, eliminado nas quartas-de-final, mesmo com quatro partidas a mais.
Com a seleção olímpica que disputou os Jogos de Seul, foi um dos destaques e mostrou novamente ser “carrasco” dos argentinos ao marcar o gol da vitória por 2 a 1 sobre os “hermanos” nas quartas-de-final. Atuando mais solto, com Ademir e Andrade (ou Milton) à frente da zaga, Geovani era a chama criativa do meio-campo canarinho, alimentando o ataque formado por Edmar (depois Bebeto) e Romário. Pena que o meia tenha ficado de fora da final por suspensão e a mais empolgante campanha brasileira em Olimpíadas tenha terminado com a prata, na derrota por 2 a 1 para a então União Soviética.

Em seu ano mágico, Geovani fez com Romário uma parceria espetacular. O camisa 8 lançava e o Baixinho, voando com 22 anos, atropelava os zagueiros na velocidade e marcava gols em profusão. Outra característica marcante do meia era a precisão nas cobranças de pênalti. Geovani corria lentamente em linha reta na direção da bola com os olhos fixos no goleiro que, ansioso, se deslocava para um lado e permitia que ele apenas tocasse levemente no canto oposto.

Decepção em 1990 e o início da queda
No entanto, o objetivo final de todo aquele trabalho não foi alcançado. Problemas de adaptação ao futebol italiano no Bologna, que o contratou no segundo semestre de 1989, e a falta de adaptação ao 3-5-2 de Lazaroni afastaram o meia da Copa da Itália. Seu estilo dificultava o posicionamento, já que ele não era um jogador de correr pelos lados do campo nem tinha fôlego e combatividade suficientes para marcar os laterais adversários, exigência do treinador para os meias.

Depois de uma passagem obscura pela Alemanha no Karlsruher, Geovani voltou ao Vasco em 1991 e esteve presente nos títulos cariocas de 92 e 93. O meia só não foi tri estadual no ano do tetra brasileiro nos EUA porque aceitou a proposta do Tigres para jogar no futebol mexicano. Mas novamente não se adaptou e retornou ao Vasco. Com a carreira em curva descendente e sendo considerado um jogador ultrapassado, desta vez não teve sucesso no clube da Colina e se transferiu para o interior paulista, atuando por Jundiaí e Rio Branco de Americana. Mais tarde, voltou à sua terra natal para encerrar a carreira em 2002, aos 38, pelo Vilavelhense, depois de passar por Serra - no qual conquistou o Estadual de 1999, seu último título -, Desportiva e Linhares.

Vê-lo nos dias de hoje caminhando amparado por uma muleta e tentando voltar a andar normalmente após vencer a luta contra a polineuropatia, uma doença que afeta a coordenação motora e provoca a disfunção simultânea de nervos periféricos do corpo humano, além de emocionar pelo drama pessoal vivido pelo ex-atleta e a garra do hoje sub-secretário administrativo da Secretaria Estadual de Esportes do Espírito Santo, também é tocante para os que viram aquele menino cheio de talento surgir nos gramados e, em seus melhores momentos com a camisa 8 cruzmaltina ou verde e amarela, se transformar no “Pequeno Príncipe”, apelido que ganhou da torcida cruzmaltina, e encantar aqueles que amam o futebol jogado com beleza e toques de genialidade.

Ficha técnica
Nome completo: Geovani Faria da Silva
Data de nascimento: 06/04/1964
Local de nascimento: Vitória, Espírito Santos
Clubes que defendeu: Desportiva Capixaba, Vasco da Gama, Bologna, Karlsruher, Tigres, Jundiaí, Rio Branco, Linhares, Serra, Vilavelhense
Seleções de base que defendeu: Brasil Sub-20

Texto: André Rocha

3 comentários:

Ricardo Antônio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Antônio disse...

Jorge, o Pequeno Príncipe era genial. Aliás, era um luxo ter no elenco Geovani, Dinamite, Romário, Mauricinho... ô saudade dos anos 80! Vi uma partida do Vasco aqui em Campos(RJ) contra o Americano (Americano 2x5 Vasco), em 1983, que o Geovani arrebentou!!! Era realmente o cérebro do time. Abraço e saudações vascaínas!

Jorge Costa disse...

Bons tempos aqueles que o nosso Vasco contava com um excelente plantel e ganhou vários títulos na década de 80.
Abraços